Um pouco de história... - Mulheres guerreiras

Ao contrário do que muitos leigos pensam, mulheres também tinham espaço militar/político na Antiguidade e Idade Média. Algumas delas, dignas de ganharem um título de filme.
“(...) Valkíria: matadora de homens – em sua qualidade de mensageira de Odin, é bem verdade, e de executante de suas sentenças – mas é, ao mesmo tempo, uma sedutora: não há quem não resista aos seus encantos”. Régis Boyer, sobre as mulheres de Odin, na obra Mulheres Viris.
Muita gente conhece a estória das Valquírias, Guerreiras de Odin, que nos campos de batalha, ajudam um vencedor, designam os combatentes que deverão perecer e escolhem aqueles que no Valhalla (local onde os guerreiros vikings eram recebidos após terem morrido com honra) farão companhia ao deus Odin, na mitologia nórdica, representadas, muitas vezes, sob a forma de virgens com plumagem de cisnes, capazes de voar através dos céus, carregando os guerreiros mortos.
Aproveitando esse embalo, gostaria de chamar a atenção para algumas outras mocinhas mal comidas da história, porém, essas não são mitológicas:

1. Judith (Yodit) foi nomeada rainha de Aksum, que no momento (960 d.C) era capital do reino etíope, apesar de alguns historiadores modernos questionarem sua existência, acredita-se que Judith tinha atitudes céticas e teria sido responsável pela destruição de monumentos religiosos, ter acabado com a dinastia descentende de Sabá e queimado muitas igrejas. Há relatos sobre sua crueldade até hoje na região norte da Etiópia. Associa-se a Judith, também, a pilhagem e destruição de Debre Damo.

2. Triệu Thị Trinh, vietnamita, também conhecida como Bà Triệu (Lady Triệu), viveu entre os anos 225 e 248 e liderou vários grupos de resistência contra o domínio chinês ao Vietnam. Alguns historiadores questionam uma possivel criação de Triêu na dinastia Le, para entusiasmar o povo a lutar contra os invasores.
Diz-se que, depois de ter vivido 20 anos de escravidão, orfã, sem suportar mais a opressão do domínio chinês, Triêu mudou-se para a selva e organizou um exército de mil homens. Quando seu irmão foi buscá-la e tentar persuadi-la a desistir da luta, ela teria dito:
  
“Não vou me resignar a ser mais uma no grupo de mulheres que se curvam e tornam-se concubinas. Eu quero navegar nas ondas mais tempestuosas, enfrentar os ventos mais fortes, matar as baleias do Mar do Leste e lutar com Wu para ganhar a independência. Eu não pretendo aceitar o abuso.”
No Anais Completos do Grande Viet, escrito durante a dinastia Le, a poderosa é descrita como uma mulher com sobrenome Triệu, que tem seios de 1.2 metros, que são jogados para trás e amarrados nas costas, é solteira, usa túnicas amarelas, sapatos com a frente curvada, luta montada na cabeça de um elefante e é imortal. A heroina aparece brandindo duas espadas em diversos livros escolares  (assim como as irmãs Trung, mais a frente apresentarei-as), é nome de várias ruas e tem até um feriado nacional em sua homenagem no Vietnam. Com 23 anos, Triêu já havia derrotado por volta de 30 batalhões Wu. Pelo fato dos principais heróis Vietnamitas serem mulheres, acredita-se que o Vietnam era um matriarcado, no período anterior à invasão chinesa.

3. Antes de Lady Triêu, por volta de 40 d.C, duas irmãs foram responsáveis pela primeira insurgência e declaração de independência do Vietnam, As irmãs Trung nasceram em uma familia de militares, filhas de um lorde poderoso, numa vila da área rural do Vietnam. Cresceram numa casa onde se praticava artes marciais e passaram boa parte da vida estudando estratégias de guerra e aprendendo diversas formas de luta. Presenciaram atrocidades cometidas contra seu povo e juraram expulsar os dominadores.
Em 40d.C elas conseguiram formar um exéricto de  cerca de 80 mil  homens e mulheres, todos comandados por 36 mulheres-generais, incluindo a mãe delas. Foi com esse exército (fantástico?) que elas expulsaram os chineses e a mais velha foi aclamada rainha. Os chineses tentaram retomar a terra vietnamita e, no ano 43d.C, voltaram a atacar com toda força. Apesar das irmãs organizarem uma forte resistência, os chineses conseguiram retomar o controle do país. As duas irmãs são cultuadas no Vietnam, onde relata-se que as duas preferiam se matar, jogando-se num rio, a se submeter aos poderio dos chineses.

4. Os Icenos foram uma tribo britânica que habitou a área que corresponderia aproximadamente ao atual condado de Norfolk (Inglaterra), entre os séculos I a.C. e o I d.C. Boudicca (deusa celta da vitória), era rainha dos Icenos, uma tribo dos Celtas, foi casada com o rei Prasutagus e tinha duas filhas. Depois da morte do marido, por volta de 60-61a.C, sucedera-se ataques surpresa dos romanos aos  icenos e Boudicca, junto a suas filhas, foram bárbaramente torturadas, por não se submeterem ao jugo da poderosa Roma. Boudicca foi desnudada e espancada em público, enquanto suas filhas eram estupradas pelos soldados romanos. Nero teria ordenado que confiscassem as terras, bens e levassem pessoas como escravos, dos icenos para Roma. A partir disso, da sua raiva e ódio, Boudicca teria se tornado uma magnífica guerreira, ela teria unido algumas várias tribos que constantemente lutavam entre si, numa luta comum, contra os romanos.
Seu exército teve grande sucesso no ataque e destruiu completamente as cidades de Colchester e Londres. Segundo Tácito, o exército de Boudicca não fazia prisioneiros: Exterminava qualquer um que cruzasse seu caminho. Dio Cassius relatou que as mulheres nobres romanas eram decapitadas e tinham os seios cortados e costurados à boca
Suetonius regrupa suas hordes, e em West  Midlands, enfrenta a rainha na derradeira Batalha na Rua Watling. Pequenas rebeliões continuaram depois da derrota. Tradicionalmente afirma-se que ela sobreviveu á grande batalha e envenenou-se em casa. Dio Cassius narra que os Celtas fizeram um enorme enterro,digno de uma heroína. Ironicamente, Boudicca tem uma estátua junto ao Big Ben, em Londres, cidade a qual teria massacrado:

5. Artemisia I era halicarnassiana por parte de pai, e cretense por parte de mãe. Ela passou a governar a Cária (hoje, importante ponto turístico da chamada Riviera Turca) após a morte de seu esposo, que era cliente dos persas. Sutilmente apoiou a resistência grega diante da invasão de Xerxes (480 a.C), lutando na Batalha de Salamina, onde comandou cinco navios de seu reino.
Artemisia I afundou um navio persa, fazendo os gregos pensarem que ela estava lutando ao lado deles. Assim, deixaram-na em paz. Xerxes, assistindo de uma colina próxima, achou que ela tivesse afundado um navio inimigo, e elogiou sua bravura. O rei persa ficou tão orgulhoso, que disse: "Meus homens se transformaram em mulheres, e minhas mulheres em homens". Artemísia tentou convencer Xerxes a recuar para a Ásia Menor, contrariando os conselhos de outros generais. No fim, os persas sofreram uma grande derrota. Heródoto, que era seu parente, não economizou elogios à sua bravura naquele combate naval.

6.  Fu Hao foi esposa do Rei Wuding da dinastia Shang (1200 a.C.), a qual tinha a patente de general, de acordo com documentos antigos. Escritos encontrados na sua tumba indicam-na como grande liderança militar. Os vizinhos Tu lutaram contra os Shang durante muitas gerações, mas Fu Hao os venceu em uma única batalha. Ela ainda liderou outras campanhas contra os vizinhos Yi, Qiang e Ba, sendo que a batalha contra estes últimos representou a maior emboscada registrada na História da China. Com um exército de 13 mil soldados, ela foi a maior líder militar do seu tempo.

7.  Ah-hotep I, trata-se de uma das figuras femininas mais importantes para os soberanos do Império Novo que a olharão como nobre antepassada, à semelhança do que acontecerá com a sua filha, Ahmés-Nefertari. Oriunda de Tebas, era filha de Taá I e da rainha Teticheri. Foi casada com o seu irmão, Taá II, soberano que faleceu nas batalhas que visavam expulsar os Hicsos do território egípcio, como atestam os ferimentos presentes na sua múmia.
Viveu até os noventa anos e foi enterrada ao lado de Kamose, em Tebas. Armas e jóias encontradas na tumba de Ah-hotep I incluem um machado retratando Ahmose I derrubando um soldado hicso e voando em direção à rainha, o que reforça o seu papel na expulsão dos hicsos. Desta forma, ela ficou conhecida como a rainha guerreira. Ela foi homenageada com uma estela, encomendado por Ahmose I no templo de Amon-Rá, que elogia seus feitos militares. O egiptógo Auguste Mariette escavou no mesmo ano o túmulo, onde descobriu um tesouro. Entre os vários objectos deste tesouro encontra-se um punhal com lâmina de ouro e um machado com cabo de madeira de cedro laminado a ouro. Também se encontraram três moscas de ouro, uma espécie de condecoração militar da época. Estes três elementos podem sugerir que a rainha liderou tropas.


8. Joana d’Arc, é considerada uma das mulheres mais fortes e guerreiras que o mundo já conheceu. Nasceu em 1412, no vilarejo de Domrémy, França. Ao completar 13 anos, a jovem passou a ouvir vozes sagradas, que diziam que a menina deveria salvar a França dos ingleses. Isto ocorreu no ápice da Guerra dos Cem Anos, conflito que se iniciou em 1337 e teve fim em 1453. Tendo Joana completado 16 anos, o rei Carlos VII - ainda não coroado - a equipou e abençoou no cerco de Orleans.
Apesar de estarem em menor número, os franceses contavam com a força, coragem e garra de Joana. A batalha durou alguns dias e os ingleses recuaram. Depois de várias vitórias, Joana coroou Carlos VII, em 1429. Ela foi a única pessoa registrada a comandar o exército de uma nação com apenas dezessete anos. Ela foi julgada por heresia em um falso tribunal e queimada na fogueira. Seu julgamento foi declarado inválido pelo Papa, e ela foi canonizada como santa muitos anos mais tarde.

9. Zenóbia, foi uma rainha de Palmira (Síria). Depois da morte do marido (Odenato), reinou em nome do filho (Vabalato) e fez de Palmira uma brilhante capital no Oriente Médio; o historiador Edward Gibbon louvou Zenóbia, a rainha guerreira da cidade síria de Palmira:
"Ela tinha pele morena . . . Seus dentes eram brancos como pérolas, e seus grandes olhos negros brilhavam como fogo, suavizados pelo mais atraente encanto. Sua voz era forte e harmoniosa. O entendimento brioso dela era fortalecido e adornado pelo estudo. Não desconhecia o latim, mas era igualmente perfeita nas línguas grega, siríaca e egípcia."
Ela liderava seu exército montada em um cavalo, com armadura completa. Durante o reinado do imperador romano Cláudio, ela impôs uma derrota tão avassaladora sobre as tropas romanas, que as legiões tiveram que recuar rapidamente para a Ásia Menor. Arábia, Armênia e Pérsia aliaram-se a ela e a declararam rainha do Egito. Aureliano, sucessor de Cláudio, enviou seus melhores guerreiros para derrotar Zenóbia, mas foram necessários quatro anos de cercos e batalhas para que Palmira - então capital da Síria - fosse conquistada. Zenóbia e mais nove rainhas de províncias aliadas foram capturadas e levadas pelas estradas romanas, presas em correntes. Algum tempo depois, sob ordens de Aureliano, Zenóbia foi exilada em Tibur, mas sua família influenciou a política romana por muitas gerações.

10. Tamara (Tamar) foi a filha do rei George III, da Geórgia. Seu pai a declarou co-governante e herdeira, aparentemente para prevenir disputas após sua morte. Após a morte de George III, Tamara ganhou a reputação de líder excepcional e foi apelidada de "Rei dos Reis e Rainha das Rainhas", por seu povo.
Tamara desempenhou papel ativo na condução de seu exército. Durante seu governo, a Geórgia atingiu o ápice político, cultural e econômico. Entre 1201 e 1203, os georgianos conquistaram e anexaram as capitais armenas de Ani e Dvin. Em 1204, o exército de Tamara ocupou a cidade de Kars. Neste mesmo ano, Tamara ajudou a fundar o Império de Trebizonda, na margem sul do Mar Negro. Faleceu em 1213, foi canonizada pela Igreja Ortodoxa e Apostólica da Georgia.


Tchau, Lilica!
Fragmentos do Históriadigital

2 comentários:

Jean Silva disse...

Ótimo post! Parabéns.

Eros Gibson disse...

Adorei o post! Me deu vontade de pesquisar mais sobre elas (e outras).
Peitos de 1,2 metros? Amarrados nas costas? Medo!
Mas, por quê você escolheu essas em especial?
Você fará outros posts com mais mulheres?
Quem é Lilica?
Beijos <3