Dá Pra Fazer! (Giulio Manfredonia. 2008)

Nello Tredi (Claudio Triso), sindicalista de esquerda (rotulando), começa nessa história se dando mal por ter lançando um livro – as custas do sindicato onde trabalha – que colocava a Esquerda como um atraso trabalhista. O início do filme (mais precisamente o primeiro minuto) mostra não só o despencar do trabalho de Nello pelo seu modernismo exagerado, mas também o possível fim do seu relacionamento amoroso com Sara (Anita Caprioli), estilista que acha Nello exageradamente antiquado quando diz que não quer que ela trabalhe. Confuso com seu moderno e antiquado pensamento em relação ao pessoal e ao profissional, acaba por ficar sem defesas.

Logo em seguida, acompanhamos a chegada de Nello a Cooperativa 180, uma cooperativa social; inicialmente essas cooperativas foram abertas durante a década de 70, na Itália, para inserir as pessoas em desvantagem no mercado econômico, como presidiários e deficientes físicos e mentais; as cooperativas que envolviam doentes eram, em maior parte, dirigidas por médicos e algumas incluíam especialistas em mercado. Dá Pra Fazer mostra, de cara, o que acontecia com a maioria das cooperativas que envolviam deficientes mentais na época que se iniciou o projeto das cooperativas sociais: os sócios eram demasiadamente medicados e se ignorava qualquer tipo de crescimento humano que eles poderiam ter, não existia um acompanhamento social ou que qualificasse o trabalho, nem era levada em consideração suas habilidades, seja elas quais fossem, além do mais, os sócios não tinham noção do que era uma cooperativa.

Estimulado, Nello deu a cara a tapa (ou soco) tentando uma maior interação com os sócios da cooperativa, o início foi um pouco conturbado, com direito a declarações emocionantes, como a de uma mulher (Nastacia Macchniz) com sentimentos desestruturados de mãe que desconhece a maternidade, além disso, deixa em dúvida se o que ela descreveu em sua apresentação foi uma história de amor ou violência, deixando inclusive a minha cabeça em momentânea confusão. Não demora muito para que nós e Nello conheçamos todos os sócios. Luca (Giovanni Calcagno), o grandão com tendências violentas; Gigio (Andrea Bosca), que fica nervoso e violento quando tem seus pensamentos contrariados; Fabio (Pietro ragusa), que tem problemas para controlar a euforia, ele diz que seu pai era um profissional de todo que ele se depara e acha interessante, como jogador de futebol, piloto de corrida, contador... costuma usar esse argumento em muitas situações para obter algum destaque; o filme também nos apresenta a Goffredo (Giuseppe Gabardini), não faço a mínima idéia de qual seja seu problema, mas sei que pirado com certeza ele é; além desses personagens há outros sócios, uma artista que está sempre vivendo um personagem; um senhor que não consegue escolher, nem as coisas mais simples; um autista; um ex-piloto que não consegue dirigir um carro em marcha mais rápida que a segunda, e etc.
Há uma credibilidade que parte de Nello para seus novos sócios, isso é o que faz começar a mover a Cooperativa, essa credibilidade acaba gerando uma motivação entre todos, todos passam a policiar suas ações, começar a se tornarem uma equipe, esse conhecimento sobre si mesmo e essa determinação para a mudança que começa a surgir entre todos os sócios iria bater de frente com o médico responsável pelo acompanhamento dos sócios, o Doutor Del Vecchio (Giorgio Colangeli), que por ignorância ou por não conhecer um outro método que não colocasse em risco a integridade física de nenhum dos sócios, não conseguia ver o trabalho como uma forma de “tratamento”, mesmo que a longo prazo.


Nello percebe que eles podem fazer trabalhos corretos, eles apenas não queriam fazê-los, dá pra sacar de primeira que alguns sócios têm uma poderosa capacidade artística, como Gigio e Luca, os dois escondiam uma criatividade muito útil, mas que Nello só iria se dar conta do quanto era proveitosa ao fazerem um trabalho sem a supervisão dele. A cooperativa começa a funcionar como uma equipe em grande união, incluí-se em suas tarefas o serviço de instalação de parquet, que não dá muito certo à priori.

O que acontece a partir da primeira tentativa de trabalho é uma grande e sutil sequência de atitudes motivacionais, mas para que elas de fato comecem a surtir efeito é preciso passar por cima da autoridade do Dr. Del Vecchio. E é exatamente o que acontece, ele se torna peça morta no trabalho de Nello. O trabalho na Cooperativa chama a atenção de Sara, que passa a fazer parte quase que diretamente desse projeto, além dela, Nello e os sócios contam com a ajuda de um outro médico, o Doutor Federico Furlan (Giuseppe Battiston), cujo começa a trabalhar no projeto por identificar na metodologia de Nello a metodologia psiquiátrica de Franco Basaglia.

Basaglia foi precursor do movimento conhecido como Psiquiatria Democrática, na Itália, esse movimento tinha como objetivo procurar novos modelos de tratamento (ou ao menos encontrar um funcional) que não tratasse o indivíduo e seu corpo em meros objetos de intervenção clínica e não centralizar o isolamento do ‘louco’ (internação como isolação) para único modelo de tratamento, como a psiquiatria hospitalar fazia, excluindo e oprimindo o paciente. Em 1973 o Serviço Hospitalar de Trieste, que começou a ser dirigido por Basaglia quando ainda funcionava como manicômio, quando iniciou o processo de fechamento das funções antigas, foi considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como referência mundial para reformulação da assistência à saúde mental. Por seus feitos, criou-se a lei nº 180, de 1978 (Lei Basaglia) que estabeleceu a abolição dos hospitais psiquiátricos (manicômios) na Itália e está vigente até hoje. Em 1979, Basaglia visitou o Hospital Colônia na cidade de Barbacena, tendo-o comparado aos campos de concentração nazistas de Adolf Hitler.

Voltando ao filme, Nello não sabia da existência de Basaglia, o que fascinou ainda mais o Dr. Furlan. Em conjunto – Nello, Dr. Furlan e Sara – tomam uma série de medidas para que a inclusão dos doentes mentais passe a ser possível, como reduzir para a metade os medicamentos, garantir qualificação no trabalho, oportunidades de desenvolvimento, acompanhamento social, pessoal (inclua sexual) e profissional, etc. É interessante, nesse ponto, a motivação que cada um tem para entrar nessa empreitada, são bem diferentes, Nello vê por um ângulo sindicalista e trabalhista, Dr. Furlan percebe que pode colocar em prática uma metodologia psiquiátrica que ele acredita ser correta, já Sara admite uma postura mais sentimental, porém diretamente ligada a importância social comum e a ‘política’ de qualidade de vida.

O filme tem uma comédia bem peculiar, encaixando-se no drama inocente de cada personagem, vale a pena ver todo o humor por diversos pontos de vista. Com a mudança de vida e cotidiano que os (agora já queridos) sócios tomam para si, há uma resposta imediata, a responsabilidades dos atos recai sobre os ombros daqueles que nunca tiveram que apreendê-las e transformá-las em lições, para que erros não fossem repetidos, reparamos o erro familiar, que concordavam com o antigo sistema de tratamento por ser confortável e não infligir nenhuma regra tradicional e/ou religiosa, agora os amigos cooperativistas se viam como adultos e sabiam que podiam fazer coisas que nunca tinham visto ou ouvido falar antes por estarem dentro de uma ‘bolha’ super protetora e regressiva. As consequências dessa bolha, dessa falta de tato e experiência que lhes foi imposta, têm conseqüências catastróficas.

Dá Pra Fazer, mostra um outro lado da negação, mostra o quanto e onde o egoísmo humano é saudável e faz parte do crescimento dele, o quanto o objetivo de uma pessoa e os sonhos que elas têm, por ser delas podem ser tão mais importante que o mais lindo sonho e objetivo comum. Além disso, também nos mostra o quanto uma ação inconseqüente indica o início tardio de uma outra ação primordial. Que o reinicio é uma peça poderosa, assim como insistir em um ideal correto.



Por fim, um filme que não seja clichê, onde se homenageie um marco social, seja motivacional e que consiga fazer o telespectador se divertir e se emocionar?
Si può fare!


DOWNLOAD DO FILME

Servidor: MEGAUPLOAD
Formato: AVI
Tamanho: 701MB
Legenda: PORTUGUÊS-BR

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3 comentários:

Carol disse...

Estou ansiosa para assistir! Logo comunico aqui!

Anônimo disse...

Excelente filme. obrigada.

Anônimo disse...

bosta velha de links, tira o post ou atualiza.