Katyn

"É um sítio maldito", disse o antigo Presidente da Polônia, Aleksander Kwasniewski, à TVN24. "Dá-me arrepios na espinha. Primeiro a elite da Segunda República polaca é assassinada na floresta de Smolensk, agora a elite intelectual da Terceira República morre neste acidente trágico. Esta é uma ferida que vai ser muito difícil de curar."

1940 - O Massacre de Katyn

O Massacre de Katyn foi uma execução em massa de cidadãos da Polônia, ordenada por autoridades da União Soviética. Estima-se que o número de pessoas executadas seja de mais de 20 mil.
Durante 4 décadas soldados da Alemanha Nazista foram acusados pelo fuzilamento dos poloneses, fato desmentindo pela abertura de documentos secretos. Prisioneiros de guerra polacos foram assassinados numa floresta nos arredores da vila de Katyn, em prisões e em diversos outros lugares. Cerca de oito mil vítimas eram militares polacos que haviam sido tomados como prisioneiros na invasão soviética da Polônia em 1939, sendo o restante cidadãos polacos presos sob alegações de pertencerem a corpos de serviço de inteligência, espionagem, sabotagem, e também proprietários rurais, advogados, padres etc.
O diário polaco Rzeczpospolita revela hoje os argumentos apresentados pelos advogados de defesa russos no Tribunal Europeu de Direitos Humanos para contestar uma queixa apresentada por alguns dos descendentes das vítimas de Katyn e que está atualmente a ser julgada. Segundo o diário, "os russos não empregam as palavras crime ou assassinato, mas sim processo ou acontecimentos de Katyn, duvidam mesmo que os polacos tenham sido fuzilados. Além disso, defendem que esse tribunal não deve julgar o caso porque a Rússia assinou a Convenção Europeia dos Direitos Humanos em 1998.
"Os oficiais polacos foram assassinados com armas alemãs e pelos próprios alemães, defendeu recentemente o deputado comunista Victor Iliukhin.

2010 - Cerimônia de Homenagem aos Assassinados em Katyn

O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, convidou o seu homólogo polaco, Donald Tusk, para participar, na quarta feira (07 de abril), na cerimónia de homenagem aos polacos assassinados em Katyn pela polícia secreta soviética em 1940. No dia 10 de Abril, Lech Kaczynski, Presidente da Polónia, participaria também nas cerimónias fúnebres e irá condecorar os cidadãos da Rússia que contribuíram para o esclarecimento da matança de Katyn. Tratava-se da primeira vez que um dirigente russo convidava líderes do país vizinho para semelhantes cerimônias, pois Katyn é um tema extremamente fraturante nas relações entre Rússia e Polónia.
Por isso, é com grande expetativa que se esperava o discurso de Vladimir Putin nas cerimónias fúnebres. As autoridades polacas parecem não esperar um "pedido de perdão" de um ex-agente do KGB-soviético, mas gostariam, pelo menos, que ele entregasse aos polacos as cópias de toda a documentação relativa ao massacre de Katyn, que se encontra nos arquivos russos. Por outro lado, Moscovo deu um sinal de abertura ao autorizar o canal público de televisão Kultura a exibir, na noite da passada sexta feira, o filme Katyn, do famoso realizador polaco Andrzej Wajda, cujo pai foi uma das vítimas do massacre: "Nunca acreditei que viveria até esse dia", comentou Wajda.

O Discurso de Putin

"Se há virtude que todos unanimemente reconhecem em Vladimir Putin, será a sua extrema habilidade política. E tal ficou mais do que provado no seu recente discurso em Katyn, que obteve a proeza de receber elogios generalizados e incondicionais de um largo espectro da classe política internacional, bem como de muitos comentadores que seguem a realidade daquela parte do mundo. No entanto, uma análise mais profunda das suas palavras na cerimônia revela não mais do que uma simples manobra de charme, com poucos ou nenhuns resultados conducentes à resolução desta disputa histórica." Borys Sokolov, em ensaio publicado.


Borys fez uma critica bem mais a fundo do esperado discurso, e como já se esperava, não ouve um pedido de desculpas russo, na verdade, "Vladimir Putin usou uma cerimônia fúnebre na floresta de Katyn para pressionar a Polónia a parar de discutir a história", nas palavras de Borys. Putin teria sugerido "uma via conjunta para compreender a memória nacional e as feridas históricas " o que "poderá ajudar-nos (Polônia e Russia) a evitar o impasse da incompreensão e do eterno ajuste de contas, bem como da divisão primitiva de povos entre justos e culpados, tal como é a intenção de alguns políticos menos escrupulosos...", Além disso, referiu que na Rússia "temos uma clara avaliação política, jurídica e moral das atrocidades do regime totalitário, que não está aberta a revisão". Quase-aparte a isso o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, afirmou em resposta que a verdade sobre Katyn não deve servir como pretexto para dividir os povos russo e polaco.
Estas palavras soam inteiramente corretas. Pelos padrões russos, trataram-se de declarações sensatas de um líder nacional.


À visão dos dois chefes de governo ajoelhados em memória das vítimas inocentes, os polacos ficaram aparentemente bem impressionados. Todavia, surpreendentemente, o primeiro-ministro russo falou muito sobre a sua simpatia para com as vítimas, mas quase nada sobre a responsabilidade dos carrascos. E não se coibiu também de atirar mais umas achas para a fogueira.

Putin afirmou hipocritamente que a única coisa que restringe o acesso às informações sobre a tragédia de Katyn são questões humanitárias, ou seja, o desejo de não prejudicar os familiares dos envolvidos nesse acontecimento trágico. De fato, estas "considerações humanitárias" destinam-se apenas a justificar as reticências do gabinete do procurador militar russo em desclassificar os documentos de acusação do caso de Katyn, onde se apontam todos os supostos responsáveis. E a preocupação aqui não é com o público polaco, mas com o russo. Todos os documentos importantes contendo, entre outras coisas, os nomes dos envolvidos no crime de Katyn, foram entregues mesmo antes da investigação oficial aos historiadores polacos, já se encontrando disponíveis nos arquivos do Instituto da Memória Nacional. Porém, se os documentos russos da investigação, incluindo a lista dos responsáveis, fossem desclassificados, isso não impediria a sua publicação na Rússia, ficando o país finalmente a saber a verdade sobre os seus heróis da polícia secreta. Mas tal coisa é algo que a soberania russa não pretende que aconteça.

Morte do Presidente da Polônia

Um único avião parte da Varsóvia em direção a Cerimônia em Katyn, no último dia 10, com 96 pessoas na tripulação, entre eles grande parte da elite política polonesa, esse avião não iria chegar ao seu destino; a aeronave caiu nas imediações de Smolensk, na chamada Floresta da Morte, próximo a Katin, não houve sobreviventes, deixando a Polônia numa situação complicadíssima;

"Estão a realizar-se as primeiras investigações. O número de mortos será precisado", disse Serguei Markin, porta-voz do Serviço de Investigação da Procuradoria Geral da Rússia sobre o acidente com o avião vindo de Varsóvia, a caminho das cerimónias fúnebres em memória das vítimas da matança de Katyn, em 1940. Segundo a imprensa polaca, no avião, além do Presidente Kaczinsk e da esposa Maria, voavam altos funcionários polacos, nomeadamente o vice-presidente do Parlamento, o chefe dos Serviços Nacionais de Segurança, o dirigente da Casa Civil do Presidente, os vice-ministro dos Negócios Estrangeiros e vice-chefe do Estado Maior das Forças Armadas da Polónia, o presidente do Banco Central e pelo menos cinco deputados, além de Richrad Kaczorowski, último Presidente da Polónia no exílio, e o diretor do Instituto da Memória Nacional da Polónia, Ianus Kurtyk.
O Presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, anunciou a criação de uma Comissão para investigar as causas da queda do avião, segundo um porta-voz do Kremlin, a Comissão será dirigida pelo primeiro-ministro russo, Vladimir Putin. Medvedev enviou também para o local do acidente Serguei Choigu, ministro para Situações de Emergência da Rússia. As autoridades russas colocaram três hipóteses: "problemas técnicos do avião", "erro humano" e "condições atmosféricas", mas, à medida que as investigações avançavam, parecia ser evidente que a tragédia se deveu à conjugação dos últimos factores. Neste caso, o estado do aparelho não parece ter contribuído para o desfecho trágico. Empregados do aeroporto militar de Smolensk, que aguardavam a chegada da delegação polonesa de madrugada, informaram que o Tupolev-154 chegou a voar várias vezes em roda sobre o local, num momento de péssima visibilidade, causada pela névoa espessa. Fez três tentativas de pouso até cair na quarta, "A uma altura de cerca de 20 metros, o aparelho em que estava o presidente polonês tocou o cimo das árvores e se despedaçou", contou uma testemunha à agência Interfax.
Muito se comenta sobre os porquês das autoridades polacas viajarem em uma única aeronave, e até tem-se suposto uma possivel vingança política por parte da Russia, algo seríssimo para se ser comentando. Teorias à parte, a Rússia tem colaborado com as investigações e suporte das consequências, agora se espera que a Polônia volte ao normal.

Créditos: José Milhazes

1 comentários:

Eros Gibson disse...

Adorei o post, não sabia que isso tudo tinha acontecido/está acontecendo.
Aproveitei para revisar e corrigir.
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